segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O MENINO que QUERIA voar





...E COMO NUM SONHO, O MENINO LANÇOU-SE NO AR!


Aquele dia parecia mesmo muito especial. Os raios do sol cortavam o céu com bastante intensidade e deixava a pequena cidade de Esperança, onde nasci, muito mais iluminada. Apesar dos anos terem se passado vorazmente, guardo ainda a nítida lembrança daquela que se transformou na maior aventura da minha vida. Muitas vezes, imagino ter sido um sonho. Abro então o velho armário da sala de jantar e deparo-me com aquele apito, feito de broto de bambu, pendurado por uma tira de couro. Exito em apanhá-lo, embora sempre acabo por fazê-lo. Olho então à minha volta, como se fosse um ritual a cumprir, e com as mãos trêmulas levo-o à boca. Caminho lentamente até à janela, onde posso ver o horizonte descortinar-se em verde. O peito, flácido pelos anos passados, resiste ao tempo, com forças suficientes para assoprá-lo. O som, imperceptível aos meus ouvidos, espalha-se pelo ar. A resposta não tarda: rompe nos confins um pio estridente e forte que sempre faz subir um calafrio pela espinha e arrepiar todo meu corpo. Há anos que não o vejo. No entanto, sei que ainda está ali, como da primeira vez que fiz soar aquele apito e o vi irromper o céu, e magnificamente, com suas imensas asas, após vários vôos rasantes, planar sobre minha cabeça. Por um instante, pude olhar em seus olhos e ver ali estampada, sua alma de liberdade. É o suficiente para certificar-me que tudo aquilo realmente aconteceu e que aquela aventura, notadamente faz parte da minha vida. É assim, e assim será, até o dia em que não mais tiver forças para soprar este apito ou não mais ouvir sua resposta. Talvez, o próprio silêncio será o elo que nos unirá ainda mais, na eternidade das lembranças dos bons momentos que construíram nossa história.

História que começou há muito tempo, quando ainda éramos jovens e descobríamos aos poucos o verdadeiro sentido de viver (...).